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VITÓRIA - ES

Vitória: Entre o Brilho do Marketing e a Sombra da Pobreza Multidimensional

Uma análise da complexa realidade socioeconômica da capital capixaba, onde a estratégia de comunicação multifacetada da gestão Pasolini contrasta com desafios estruturais na segurança pública e um quadro alarmante de pobreza em múltiplas dimensões.

Vitória, a capital do Espírito Santo, navega em uma complexa realidade onde uma intensa estratégia de marketing multifocal e multifacetada busca projetar uma imagem positiva da gestão do prefeito Lorenzo Pasolini. No entanto, sob essa superfície cuidadosamente construída, persistem desafios profundos relacionados à pobreza multidimensional e a uma segurança pública que parece não acompanhar o ritmo da propaganda oficial.

A promessa de campanha de priorizar a segurança pública, elevando a respectiva secretaria ao centro do governo, soa dissonante diante da percepção de insegurança crescente na cidade, culminando em eventos como a agressão sofrida pelo próprio prefeito. Essa contradição lança luz sobre a possível distância entre o discurso e a prática, uma característica que parece permear outras áreas da gestão.

A pobreza multidimensional em Vitória se revela em um mercado de trabalho precário, onde a maioria dos trabalhadores, conforme dados do próprio governo municipal, luta para sobreviver com rendimentos inferiores a R$ 2000. A ausência de um banco de desenvolvimento e de um polo tecnológico formalmente estabelecido obstaculiza a criação de empregos de qualidade e a inovação, perpetuando um ciclo de dificuldades econômicas.

Essa fragilidade econômica se manifesta no desapontador desempenho de setores cruciais para o desenvolvimento da cidade. A industrialização patina, o turismo não explora seu vasto potencial, e a pesca clama por apoio. A negligência com a agricultura e a pecuária, mesmo em um contexto urbano, e a falta de parcerias com instituições como a Embrapa e o governo federal, demonstram uma visão de desenvolvimento limitada e desconectada das necessidades da população.

A infraestrutura urbana desigual é outro sintoma gritante da pobreza multidimensional. Enquanto bairros privilegiados exibem desenvolvimento, o coração da capital, o centro de Vitória, enfrenta um estado de abandono. Obras públicas de qualidade duvidosa, como o asfalto que se desfaz com a chuva, evidenciam uma gestão de recursos questionável e um impacto direto na qualidade de vida dos cidadãos.

A aparente falta de prioridade em áreas sociais essenciais agrava o quadro. A escassez de livros nas escolas e a não utilização estratégica do potencial do IFES para a qualificação profissional representam oportunidades perdidas para investir no futuro da cidade e romper o ciclo da pobreza.

A turbulenta dinâmica política interna, marcada por tensões e relatos de desvalorização da vice-prefeita, ligada à segurança pública, sugere que a coesão e o foco na resolução dos problemas da cidade podem estar comprometidos. A persistente insegurança, tristemente exemplificada pelos recorrentes relatos de violência e tiroteios que afligem comunidades como Gurigica e Itararé, reforça a necessidade de ações efetivas que transcendam o marketing e abordem as causas profundas da criminalidade, possivelmente ligadas à pobreza multidimensional e à falta de oportunidades nessas áreas.

Os trágicos eventos do Carnaval de 2022, com relatos de violência extrema, incluindo um homicídio com requintes de crueldade na escadaria da catedral, expõem a fragilidade da segurança pública e podem estar relacionados com o cenário de desigualdade e falta de oportunidades que caracterizam a pobreza multidimensional.

Ademais, a crescente especulação sobre uma possível candidatura do prefeito Lorenzo Pasolini ao Governo do Estado lança uma nova perspectiva sobre as estratégias de sua gestão em Vitória. A forte ênfase no marketing multifocal e multifacetado, que busca projetar uma imagem positiva e abrangente, pode ser interpretada não apenas como uma ferramenta de aprovação local, mas também como uma estratégia para construir capital político visando uma disputa em nível estadual, com foco na manutenção de uma ampla base de apoio na Câmara Municipal. Essa estratégia se traduz em um marketing que se irradia dos vereadores da base para seus simpatizantes, configurando uma espécie de marketing multifocal com um custo financeiro direto relativamente baixo para a prefeitura. Essa ambição e a necessidade de manter essas alianças poderiam influenciar as prioridades da gestão, em detrimento de um enfrentamento mais direto dos problemas estruturais da cidade. A comunicação precária da prefeitura e a notável falta de debate público também se destacam, dificultando a compreensão das necessidades da população e a busca por soluções eficazes.

Em última análise, a gestão Pasolini parece investir fortemente em um marketing multifocal e multifacetado, buscando construir uma narrativa de progresso e bem-estar. No entanto, a persistência de problemas estruturais ligados à pobreza multidimensional e a uma segurança pública aquém do desejado levantam um questionamento crucial: o brilho da propaganda está ofuscando a dura realidade enfrentada por uma parcela significativa da população de Vitória? A efetividade da gestão será medida pela capacidade de ir além do marketing e enfrentar as raízes da pobreza em suas múltiplas dimensões, garantindo assim uma segurança pública real e um desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável.

 

Jornalista Lauro Nunes

 

Fonte: Redação Própria

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