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Governo Federal quer diminuir impacto das drogas entre indígenas

Os ministérios da Justiça e Segurança Pública e dos Povos Indígenas lançaram, nesta segunda-feira (5), em Brasília, edital no valor de R$ 3 milhões para financiar projetos de desenvolvimento sustentável em territórios indígenas ameaçados pelo narcotráfico e pelo crime organizado.  

O evento ocorreu no Dia Mundial do Meio Ambiente (05 de junho). A mesma data marca o primeiro ano dos assassinatos do indigenista e funcionário licenciado da Funai, Bruno Pereira, e do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, oeste do estado do Amazonas. 

O edital será coordenado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que, pela primeira vez, construirá uma política voltada às populações indígenas, de acordo com a secretaria da Senad, Marta Machado.  

A secretaria enumera as consequências da atuação do crime organizado aos povos originários, que precisam ser prevenidas e combatidas com urgência.

“O agravamento dessa situação de indígenas protegeu às uma série de violências, ameaças, coações, assassinatos de lideranças, violência e exploração sexual, trabalho forçado em atividades ilícitas, cooptação de jovens para o tráfico, disponibilização de drogas ilimitadas em seus territórios. A ameaça das organizações criminosas sobre as terras indígenas também impacta em questões de saúde indígena, como doenças e distúrbios associados ao abuso do álcool e de outras drogas”. 

05/06/2023 - Brasília-DF - A secretária nacional de políticas sobre drogas e gestão de ativos, Marta Machado, durante o lançamento do Edital de Financiamento

A secretária nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, Marta Machado, diz que é a primeira vez que a secretaria lança ação voltada para a população indígena -  Antônio Cruz/ Agência Brasil

Novo edital 

Lançado para reduzir o impacto do narcotráfico em indígenas, o edital vai financiar os trabalhos de organizações indígenas e comunitárias. São três os eixos de atuação:: 

-Enfrentamento de situações de vulnerabilidade social de jovens e adultos indígenas, por meio da geração sustentável de renda e participação social; 

-Prevenção de violência sexual física testemunhada contra mulheres indígenas ou a mitigação dos efeitos dessas violências com ações de direitos a direitos para proteção, amparo e acolhida 

-Redução e prevenção de invasões territoriais por narcotraficantes e outras redes criminosas. 

“Entendemos que as ações de repressão que estão sendo retomadas e conduzidas pelas polícias devem andar par e passo com as ações de acesso a direitos e de desenvolvimento social e humano que fortaleçam as comunidades e as tornem mais resilientes”, explicou Marta Machado. 

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, presente no evento, demonstrou a proteção histórica na proteção dos territórios indígenas contra o narcotráfico e disse entender que a Funai poderá contribuir para a construção de políticas indígenas dentro da rede governamental.   

“Quem mais que poderá orientar todos os ensaios de projetos, como o único órgão indigenista federal do nosso país, que tem a expertise nessa diversidade que estão os povos indígenas, mas também tem uma atuação local? A Funai, nesse governo, tem se colocado na mesa para o diálogo e também para propostas”, apontou o presidente da Funai. 

05/06/2023 - Brasília-DF - A presidente da Funai, Joenia Wapichana, durante o lançamento do Edital de Financiamento

Presidente da Funai, Joenia Wapichana, reconhece a herança histórica na proteção dos territórios indígenas contra o narcotráfico -por Antônio Cruz/ Agência Brasil

Estratégia Nacional 

O lançamento do edital para financiar projetos de desenvolvimento sustentável em territórios indígenas ameaçados pelo narcotráfico faz parte da Estratégia Nacional para Mitigação e Reparação dos Impactos do Tráfico de Drogas sobre Populações Indígenas e Etnoterritórios. 

A estratégia é fruto da articulação de novos ministérios e pretende proteger e garantir a segurança de indígenas e de comunidades tradicionais, além de ampliar o acesso a direitos pelas comunidades e, por fim, reparar as violências sofridas por esses grupos, relacionados ao tráfico de drogas e atuação de organizações criminosas. 

A secretária da Senad, Marta Machado, ao citar o ambientalista Ailton Krenak, ratificou os conflitos vividos mais fortemente nos anos mais recentes. 

“Nunca houve paz para os povos indígenas. A invasão de seus territórios nunca cessou. Mas, nos últimos anos, o crescimento e a interiorização da ação de organizações criminosas e do narcotráfico deram ensejo ao agravamento dessa situação”. 

A diretora do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a antropóloga Beatriz de Almeida Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, morto em junho de 2022, entende que o narcotráfico nos territórios indígenas é um problema nacional, que tem se alastrado. Mas, que o edital anunciado nesta segunda-feira, poderá reduzir o problema. 

05/06/2023 - Brasília-DF - A diretora do departamento de proteção territorial e de povos indígenas isolados, Beatriz Matos, durante o lançamento do Edital de Financiamento

Beatriz Matos, entende que o narcotráfico em territórios indígenas tem se alastrado -  Antônio Cruz/ Agência Brasil

Para Beatriz, a criação do  Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas , em abril deste ano, durante o Acampamento Terra Livre, ressalta a atuação do MPI na busca de soluções. “O comitê coloca o Ministério dos Povos Indígenas no centro dessa definição, criação, reflexão e monitoramento dessas políticas abordadas aos povos indígenas, inclusive, políticas de segurança pública. O que é algo inédito no país.” 

Homenagem 

No início da cerimônia, um vídeo foi exibido com o indigenista brasileiro Bruno Pereira cantando a música indígena “"Wahanararai", no idioma Kanamari, ao lado de indígenas, no meio da mata. 

Além de Bruno e Dom Phillips, as imagens homenagearam outros  defensores dos direitos humanos  e do meio ambiente mortos no Norte do Brasil, como o líder seringueiro Chico Mendes, em 1988; e a missionária católica norte-americana, Dorothy Mae Stang, em 2005. 

Beatriz Matos agradeceu a homenagem aos mortos e realçou a luta deles por promoção e respeito aos direitos humanos.  

“Acho que essa é a verdadeira justiça que espero Bruno, Dom, Maxciel [Pereira dos Santos], e todos os que foram citados, como Chico Mendes, e Dorothy Stang, como lutadores pelos direitos humanos dos povos indígenas. A verdadeira justiça não é só a não impunidade, ou seja, que o crime seja de fato punido, mas também que a gente consiga possibilitar, de verdade, a segurança e a vida desses povos e das pessoas que trabalham com eles”. 


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