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"Queria dormir, agora dormiu" ironiza PM que assassinou músico em Vitória

Segundo decisão da Justiça que tornou o soldado da PM Lucas Torrezani réu por ter matado Guilherme Rocha em um condomínio em Vitória, o acusado trocou mensagens em um grupo de WhatsApp debochando da morte do músico. 

"Queria dormir, agora dormiu"destacou a juíza Lívia Regina Savergnini em um dos trechos da decisão.

Para a juíza, a atitude do réu de 28 anos demonstra frieza.

"Acusado conta com personalidade desprovida de sensibilidade moral, sem um mínimo de compaixão humana, não valorizando o semelhante de forma a ser possível a convivência social, tanto que no dia seguinte ao crime ele se manifestou em um grupo de WhatsApp demonstrando total desapego à vida da vítima Guilherme", relatou a juíza.

Ainda na decisão, a juíza apontou um outro momento de frieza do soldado da PM logo após os tiros. Quando o soldado atirou no músico, ele ainda ficou acompanhando a vítima agonizar até morrer enquanto terminava com sua bebida alcoólica.

O comportamento de Lucas reforçou, pra a juíza, de que o PM precisa continuar afastado da sociedade.

"A imposição de sua custódia cautelar se mostra necessária para preservação da ordem pública pois presente a possibilidade de repetição da conduta em virtude do acusado novamente consumir de bebida alcoólica na posse de arma de fogo e, com isso, perder o autocontrole e voltar sua frustração contra outra pessoa por mero desentendimento. Registro que o acusado Lucas ocupa o cargo de policial militar e, a meu sentir, tal função é incompatível com a conduta que lhe é atribuída", destacou a juíza.

Prisão preventiva

O policial está preso preventivamente desde o dia 17 de abril e a decisão reforçou o pedido de prisão preventiva de Lucas Torrezani, de 28 anos.

O soldado morava no mesmo condomínio que a vítima e deu um tiro no ombro de Guilherme depois que o músico foi reclamar do barulho que o PM e outros convidados faziam.

 

Segundo decisão da Justiça, Jordan Ribeiro de Oliveira era uma das pessoas que também estava no local e participou do crime, empurrando o músico durante a discussão, fazendo com que Guilherme perdesse o equilíbrio e caísse. No chão, Guilherme foi baleado.

Durante a decisão, a juíza destacou que há indícios suficientes de que o solado foi o responsável pela morte do músico e que os parentes do militar, que são testemunhas do processo, têm medo de falar sobre o caso.

O advogado Taylon Gigante, que faz a defesa do PM Lucas Torrezani, disse em entrevista que ainda não foi intimado da decisão judicial e que o réu não vai colocar em risco o andamento do processo.

A defesa afirmou ainda que a prisão preventiva vai ser combatida para mostrar que não há fundamentos que comprovem que o réu vai fugir e que espera que o Judiciário faça essa reparação e que no momento oportuno será esclarecida a realidade dos fatos.

Desapego à vida da vítima

Ainda na decisão, a juíza indicou que Lucas costumava fazer festas com música alta com amigos depois das 22h no condomínio onde morava, o que por diversas vezes atrapalhava noites de sono de Guilherme e da família.

E que muitas vezes, a vítima já tinha denunciado no condomínio e reclamado das festas.

"A conduta reiterada do denunciado Lucas em promover confraternizações passou a ocasionar transtornos à vítima Guilherme e seus familiares, na medida em que a proximidade do apartamento deles ao banco do hall de entrada do Bloco I fazia com que o barulho das músicas e conversas atrapalhassem as noites de sono da família, tanto que a vítima Guilherme, em ocasiões pretéritas, chegou a conversar com o denunciado Lucas solicitando-lhe que encerrasse as confraternizações, o que não foi atendido, de modo que a vítima acabou registrando a ocorrência no livro do condomínio", apontou trecho da decisão.

[caption id="" align="alignnone" width="647"]Soldado da PM, Lucas Torrezani, de 28 anos, matou vizinho com tiro em condomínio de Vitória — Foto: Reprodução/TV Gazeta Soldado da PM, Lucas Torrezani, de 28 anos, matou vizinho com tiro em condomínio de Vitória — Foto: Reprodução.[/caption]

No dia do crime, por volta das 02h22 o músico foi até o grupo e pediu que diminuíssem o tom das conversas. O acusado chegou a deixar o local com as outras pessoas mas voltou minutos depois, o que fez com que Guilherme voltasse e explicasse mais uma vez que ele e a família não estavam conseguindo dormir, o policial sacou a arma e o intimidou.

"Nesse momento, o denunciado Lucas, que é policial militar, sacou a arma de fogo que portava consigo e intimidou a vítima dizendo “eu sou PM, o que você vai fazer?”, instante em que o denunciado Jordan se aproximou de ambos", apontou outro trecho da decisão da juíza.

A decisão também destacou que Lucas, com a arma na mão, se aproximou da vítima e projetou o cano da arma por duas vezes em direção ao tórax dela, e em seguida bateu o cano da arma no rosto de Guilherme, que tentou se defender.

A juíza frisou que o acusado acompanhou todo o momento após Guilherme ter sido baleado, e continuou bebendo, sem prestar ajuda.

Nota da defesa do PM:

"A Defesa de Lucas Torrezani de Oliveira esclarece que ainda não foi intimada da decisão judicial. Entretanto, restou provado ao longo do Inquérito Policial que o aludido não colocará em risco o andamento do processo, tendo em vista que no atual cenário não se encontram presentes os requisitos da prisão preventiva insculpidos no artigo 312 do Código de Processo Penal. Tal decisão será combatida no intuito de demonstrar que não há fundamentos para se sustentar uma segregação prisional, e espera-se que o Judiciário faça essa reparação. Cabe ressaltar que a presente ação se encontra na fase embrionária e no momento oportuno será esclarecida a realidade dos fatos. Todas as medidas serão tomadas para esclarecimento da verdade."


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Comment (1)

  • Scott Evans
    2023-06-23 20:56:10
    A justiça deve ser feita