“Além da primeira apresentação, nesta terça-feira (18) vamos exibir o espetáculo também na cidade de Passos, dentro da mostra competitiva oficial do festival.
Todo o elenco está bem feliz com os resultados da primeira apresentação, que foi bem acolhida pelo público na praça e também pela possibilidade conhecer trabalhos de outros estados.
É um intercâmbio muito importante, que só tem a somar e favorecer o crescimento do grupo”, pontua Carlos Ola, diretor do grupo há quase quatro décadas.
De acordo com ele, o espetáculo “Bumba Meu Boi” é uma adaptação livre da tradição nordestina, incorporando elementos da cultura capixaba especialmente da história de Guaçuí, cidade natal do grupo.
“Além de apresentar esse espetáculo, vamos participar de inúmeras atividades do festival, incluindo debates e oficinas.
Fora a rede de intercâmbio com os outros grupos, visando à formação e à informação”, acrescenta.
Carlos Ola ressalta que o festival é um dos mais importantes de Minas Gerais, uma vez que reúne grandes espetáculos e nomes de peso da cena teatral brasileira.
“Isso atraiu nosso grupo, ano passado, quando levamos os espetáculos ‘A estória do homem que vendeu sua alma ao diabo e quase perdeu o seu amor’ e ‘Os Sacrilégios do Amor’.
Ambos tiveram boa repercussão e ganharam prêmios.
O festival é uma vitrine para todos os grupos.
A partir dele, podemos articular parcerias e intercâmbios, buscar mais amadurecimento.
Além disso, há o lado afetivo, pois a produção do festival sempre nos recebe com enorme carinho.”
Bumba Meu Boi
Com elementos da cultura popular, o texto narra a trajetória de Chico, empregado de uma grande fazenda que acaba de receber um boi muito caro para cuidar.
Já sua esposa, Catirina, está grávida e tem desejos estranhos um deles é o de comer a língua do boi mais caro e mais bonito da região.
Chico hesita em atender ao desejo dela.
Porém, com medo de que seu filho nasça com cara de boi e tentado por Belzebu,resolve arrancar a língua do animal.
A partir daí, arrependido, tem que recorrer ao sincretismo religioso para reverter o feito e não ser punido pelo Coronel, dono do boi.
Carlos Ola explica que, embora seja uma tradição com raízes específicas do nordeste, o bumba meu boi chegou a praticamente todos os estados brasileiros, passando por modificações em sua maneira de contar e cantar, pois cada povo foi criando e recriando o “causo” que, a princípio, falava de sua negritude e religiosidade.
“Em nossa proposta, inserimos elementos da estrutura familiar oligárquica (o Coronel e a Sinhazinha), do proletariado (o Capataz, Chico e Catirina), além de outras profissões, como o doutor, o padre e o pai de santo (estes dois também religiosos).
Há ainda espaço para outras culturas, como a dos ciganos todos representando esse sincretismo que faz parte de nosso cotidiano”, observa o diretor.
O grupo teatral Gota, Pó e Poeira participa do festival com recursos do Estado, por meio do edital Circulação e Intercâmbio, da Secretaria da Cultura (Secult).
Segundo Carlos Ola, é um mecanismo de fomento indispensável, pois possibilita a muitos artistas e fazedores de cultura circular com seus trabalhos, sobretudo fora do Espírito Santo, para que a cultura local seja conhecida para além destas terras.
“Todo grupo ou companhia anseia mostrar seu trabalho para o mundo.
E festivais e mostras não oferecem cachês nem ajudas de custo, para subsidiar as estadias.
O edital, ao investir esses recursos, permite que a cultura capixaba seja vista também em outros estados, apresentada nesses festivais, ou mesmo fora do país.
Iniciativas assim contribuem para dar mais visibilidade à nossa cultura”, afirma o diretor.
Espetáculo faz adaptação livre da tradição nordestina, com elementos da cultura capixaba